em março, ela completa 99 anos. nascida em rovno - cidade fronteiriça que ora pertencia à rússia, ora à polônia (hoje ucrânia), dwojra kessler diamant sofre de dores no estômago, ouve precariamentente, é lúcida, tem a visão comprometida e discorre sobre qualquer assunto. não importa o quanto demore, diaramente, ela lê todo o jornal. passa a maior parte do tempo na cama, quando levanta faz questão de pentear-se. na frente do espelho, pálpebras profundas, olhos verdes verdes, é a mesma mulher vaidosa, elegante, mãe da minha mãe, minha avó em fotos P&B com ares de ava gardner. diante dela, recebo lições, aprendo com seu silêncio, quando hesita, quando recorre aos provérbios russos. diante dela, me reconheço, entendo melhor quem sou, a dignidade de pertencer a uma linhagem como essa. que apesar das agruras, dos schtetls, da saudade da pátria, da viuvez, apesar de tantos pesares, escolhe a vida. eternamente. e ainda depois.
Muito lindíssimo. Ainda mais nesses tempos tristes, quando os jovens devorados pela vaidade fitam o futuro incerto com os olhos do arrivismo e cultivam um caráter simultaneamente presunçoso e flácido como um origami de papel higiênico.
ResponderExcluirVida longa aos que tanto já trilharam, tenhamos a delicadeza de nos determos um instante diante deles. Quem sabe um dia gostaremos que façam o mesmo conosco.