

Série de imagens sobre o encontro insólito entre elementos da vegetação com construções humanas, como se algo os tivesse entrelaçado - a constituição da paisagem urbana como um organismo que amalgama natureza e cultura - palimpsesto de vegetação, concreto, sinalização viária, arquitetura. Árvores se revelam, subitamente, como forquilhas, tomando a configuração de prédios; raízes a forma de calçadas; ninhos, a extensão de fios de luz. Na passagem de uma situação a outra observa-se o emergir de organismos urbanos, a vida se aglutinando a partir de um mesmo movimento que não pára.
Desde 2005, venho registrando várias imagens a partir de observação e do mapeamento de aspectos insólitos da paisagem natural e de como eles se introduzem na paisagem urbana, criando relações particulares, parênteses urbanos. O projeto consiste em uma seqüência de caminhadas acompanhadas de fotografias de situações que abordam a relação entre homem e natureza nas cidades. Registrando, mapeando e reportando o resultado de minhas aproximações com a realidade urbana.
A operação envolve a curiosidade pelas coisas pequenas, estar disponível e tomar qualquer direção, andar a esmo. Seguindo a trilha aberta pelo flâneur de Baudelaire, deixar-se impregnar pelas imagens, manchar-se pelo mundo, abrindo o trabalho para o acaso, para as surpresas da deriva. Um giro pelas cidades com olhar estrangeiro - ora poético, ora irônico - com o que está estabelecido. Caminhadas sem rumo pré-estabelecido, elucidadas por aquilo que Walter Benjamin denominou iluminação profana, aspectos invisíveis do espaço e da vida urbanos.
Nas experiências que realizei, observei que o olhar do deambulante pode revelar outro significado dos elementos urbanos, produzindo um efeito de maravilhamento ou descoberta do insólito. Essas deambulações permitem a transversalização da cidade. Cada situação se apresenta como uma frase, trazendo à luz expressões já existentes porém não percebidas no cotidiano. Esse exercício provoca uma operação de deslocamento que torna visível aspectos do cotidiano na cidade que o olhar funcional não revela. Estruturas corriqueiras como prédios, marquises, fios, calçadas. O inesperado, a cidade antropológica e não industrial, a paisagem enquanto relação entre o homem e a natureza, a cidade-ambiente. Cenas em estado de suspensão.